O último poema do rinoceronte (Rhino season)
Uma história de amor com plano de fundo as mudanças políticas vividas pelo Irã atual. Essa é a premissa de O último poema do rinoceronte (Rhino season, 2012) do diretor iraniano Bahman Ghobadi (o mesmo de “Falando com Deuses” e “Tartarugas Podem Voar”).
A película é uma produção do Iraque, Irã e Turquia e foi lançada no renomado Festival de Toronto de 2013. Esses dois últimos países serviram como cenário para o sexto longa de Ghobadi.
Assim como nas suas criações anteriores, as mudanças políticas do seu país natal, Irã, servem como plano de fundo para o desenrolar da narrativa.
O filme de 1h44m de duração conta a história de Sahel (interpretado pelo ator Behrouz Vossoughi), um poeta curdo-iraniano que é acusado de escrever poemas políticos.
Sahel é preso juntamente com sua esposa Mina (interpretada pela italiana Monica Belucci), que é encarcerada após se negar a divorciar-se de Sahel.
Mina logo é solta, com a “contribuição” de Akbar, seu antigo motorista e atual membro do Regime. A “ajuda” de Akbar é motivada pela obsessão dele por ela.
Desde a prisão até sua liberdade, ela é manipulada pelo “amigo” e é levada a crer na morte de Sahel na prisão.
Sahel, no entanto, continua vivo e cumpre cruéis 30 anos de prisão. Quando solto, o poeta tem como objetivo reencontrar sua esposa e filha, que agora vivem na Turquia.
Experiências pessoais e filme pós-exílio
Assim como seus filmes anteriores, Ghobadi coloca suas experiências de vida em O último poema do rinoceronte. Esse, porém, é o mais íntimo de todos.
Desde 2009 o diretor e também roteirista vive exilado do seu país. Os sentimentos de perda e confusão vivenciados por Sahel na telona são semelhantes aos de Ghobadi e resultaram no seu primeiro filme pós-exílio.
Os elementos da vida do diretor também são perceptíveis na escolha dos cenários. Quando fugiu do Irã, Ghobadi se mudou para o Iraque e depois, para a Turquia.
Deixou para trás amigos e colegas de profissão e passou a vivenciar crises existenciais por estar longe da sua terra natal.
Narrativa fria de O último poema do rinoceronte
Para recriar as tormentas vividas durante essa fase, Ghobadi constrói um filme com poucos diálogos e cenas mais sombrias (uma metáfora do pesadelo vivido por Sahel e Ghobadi).
O talentoso diretor iraniano aposta na construção de uma narrativa focada nas expressões faciais do veterano Behrouz, que comove com seu olhar perdido durante o desenrolar da história.
Um dos exemplos mais belos desse filme é a cena em que Sahel é autorizado a tomar banho de sol dentro da prisão.
Apesar da narrativa dramática falar sobre perdas, O Último Poema dos Rinocerontes conta uma história sobre esperança.
Segundo o próprio Ghobadi, essa película o ajudou a sobreviver e serviu como um renascimento. Também, uma nova vida para alguém que foi forçado a deixar família e amigos para trás, para poder lutar por justiça e liberdade.